Homenagem ao Seu Luizinho

O “Seu Luizinho” nos deixou depois de 86 anos de vida empreendedora. Deixou-nos um legado de amor ao trabalho, dedicação e persistência materializado na INFIBRA, que completa 50 anos em 2019. Não resta dúvida que muito suor e lágrimas dele estão impressos em cada telha que é produzida diariamente em nossas fábricas.

Como homenagem a este grande empresário, líder e amigo, o INFORMATEX reproduz hoje uma entrevista que publicamos em julho de 2007. O texto revela muito do caráter e personalidade do Seu Luizinho, com respostas firmes e incisivas e com a indelével marca de sua maior qualidade: o amor ao trabalho e à “firma”.

Uma vida de trabalho

Trabalho. Talvez essa seja a característica mais forte de Luiz Fernando Marchi, um dos sócios fundadores do Grupo Infibra-Permatex. Com 74 anos, completados no último dia 1 de abril e ocupando hoje uma função de retaguarda na direção das empresas,  “Seu Luizinho” não deixa de estar nos escritórios e principalmente nas fábricas todos os dias. Logo às 6 da manhã. Ele recebeu a reportagem do Informatex em sua sala na Permatex, depois de ser localizado na empresa fazendo o que mais gosta: andar pela fábrica.

Como foi sua infância?

Foi difícil mas feliz. Eu aprendi a ter reponsabilidade porque via o esforço da família. Estudei no Colégio Cezário Motta em Campinas onde fiz o científico. Quando voltei fiz o Tiro de Guerra. Depois, com 18 anos, passei a ajudar meu pai que começava no ramo de olaria fabricando tijolos, junto com meu irmão, onde hoje é a Cerâmica Maristela. No início da década de 50 nasceu então a cerâmica com o nome de “São Geraldo”.

Como funcionava a cerâmica naquela época?

No início o barro era amassado com a força de animais girando em torno de uma pequena pipa. Depois fomos comprando algumas máquinas usadas da Mecânica Bonfanti. Posteriormente passamos a fazer telha de barro e até hoje estamos nela e com outros produtos também.

E a Infibra e a Permatex, como entraram nesta história?

Eu recebi um convite do sr. Hamilton Da Roz. O sr. Martim havia deixado a Permatex e queria ir para Goiás, se dedicar à extração do talco. Me lembro como se fosse hoje: uma segunda-feira em frente de casa, o sr. Hamilton me convidou para ficarmos junto com o sr. Martim e fundar uma indústria de fibrocimento. Assim nós quatro – meu irmão Lalo entrou também – fundamos a Infibra em 1969 e estamos até hoje. Mas na verdade em 1972 foi o verdadeiro começo, depois que a indústria caiu…

Caiu? Como assim?

Em 28 de fevereiro de 1972, um domingo, às sete da noite um grande vendaval destruiu o prédio todo. A cidade ficou sem energia elétrica por três dias. O recomeço foi muito difícil. Tivemos ajuda do Governo do Estado, governador Laudo Natel. Aí construímos um prédio mais preparado para o crescimento que é o que está lá até hoje.

E a Permatex?

A Permatex adquirimos em 1982. O sr. Vitório Bonfanti colocou a Permatex à venda e nós nos interessamos. A negociação foi rápida. Em dois ou três dias fechamos o negócio. Nós acreditávamos que se nos juntássemos as empresas, a nossa força seria maior. Naquela ocasião a Permatex já tinha adquirido o terreno onde está hoje e já havia a construção de uma pequena fábrica ali. Depois transferimos ela totalmente da cidade para este local. E aí veio dar mais credibilidade para o Grupo, mais força, empregou mais gente. Nesta época começamos a viajar para o exterior em busca de máquinas novas.

É mais difícil tocar as empresas hoje ou naquela época?

São fases distintas. Naquela época faltava dinheiro, preparo, conhecimento, amizades com pessoas do mundo do amianto, ganhar credibilidade. Hoje está mais fácil. As fábricas são conhecidas, tem uma estrutura mais firme. Foram muito bem conduzidas por todos, por nós que iniciamos e depois com a chegadas dos  “meninos”, reforçou, cresceu, aumentou a produção, ganhamos mercado e ficamos mais fortes.

As empresas tem como característica o ambiente familiar, o bom relacionamento entre patrões e empregados, de forma que alguns ficam até 30 anos como funcionários do Grupo. Por que isso acontece?

Isso é o jeito da gente. Nós quatro que iniciamos sempre vivemos dentro das fábricas, junto dos empregados. E até hoje se conserva assim. Isso criou um laço de amizade muito forte com os empregados. Logo que começamos a dar os passos mais largos, nos preocupamos em fazer o refeitório, servir comida, roupa lavada, médico nas firmas. Sempre convivemos com as famílias e quando eles precisam, em casos de doença, a gente atende. Isso tudo gerou um respeito muito grande deles por nós e de nós por eles. Nós gostamos de ficar dentro da fábrica.

O sr. já está aposentado e exerce hoje uma função de conselheiro na diretoria administrativa das empresas e, portanto, não precisaria mais estar aqui tanto tempo e nem tão cedo. O que move o sr. ainda hoje a estar logo de manhã nas empresas?

A vida nos leva por este caminho. Preciso dar uma ajuda para os filhos. Às vezes eles viajam bastante, mais a negócios do que a passeio. Eu me sinto bem aqui, vindo quase de madrugada para a firma. Às seis da manhã já estou aqui, almoço rápido e já estou de volta. Não deixo de vir aqui nem aos sábados e domingos. Venho pouco tempo, 15 minutos, meia hora, uma hora no máximo. Eu me sinto feliz aqui.

Um momento mais feliz e um mais difícil.

São muitos. Quando os filhos nasceram e depois os netos. Temos uma família unida, muitos amigos na sociedade… são momentos gratificantes! O mais difícil é a ingratidão. Na política, por mais que se diga, fui sempre respeitado, nunca me agrediram moralmente. Mas o povo é ingrato, nunca reconhece aqueles que trabalham por eles. Eu não me julgo merecedor dessas críticas. A política de Leme sempre foi conturbada. Mas no meu período de dez anos foi o tempo de mais tranquilidade que houve na política de Leme. Procuramos não cometer injustiças e governar do lado do povo. Sempre digo: cite dez ou doze obras importantes de Leme e eu garanto que pelo menos a metade foi feita no período do meu governo. Apesar dos anos, estas obras continuam sendo úteis para a cidade.

Como é o bom funcionário para o sr.?

É aquele que se dedica, que gosta da firma. Que leva para casa dele a bandeira da firma, que na cidade, onde ele está, tem o prazer de usar uma camiseta da firma, se orgulha de ser funcionário da firma. Aquele que não falta, que trabalha com responsabilidade mesmo sem a presença do patrão ou do gerente. Esses são os bons empregados.

Que mensagem o sr. Deixaria para todos os funcionários do Grupo?

Que continuem como sempre: trabalhando com vontade, respeitando a firma e aqueles que tem responsabilidade maior, como os gerentes, que respeitem os nossos filhos que já são patrões. Porque as firmas e as famílias têm uma responsabilidade muito grande com eles. E essa responsabilidade tem sido cumprida e vai continuar sendo assim. Que acreditem na gente, na cidade e no Brasil, que ainda é um bom país!